sexta-feira, 24 de abril de 2015

CONVITE  ESPECIAL


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Saúde - Física e Mental - e mais Anos de Vida!

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com muito amor, alegria, simpatia, sorrisos, e ainda bom humor.

Aproveite!... Porque não vai acontecer todos os dias, nem todos os meses,
nem todos os anos!

NÃO FALTE! Foi tudo preparado, carinhosamente, a pensar em Si!



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terça-feira, 7 de abril de 2015

AS GRANDES DORES DOS GRANDES MÉDICOS.
Porque Nem Sempre É Fácil...


NUNO LOBO ANTUNES - "VIVO  COM  A  MEDICINA  DESDE  QUE  ME  CONHEÇO"

A propósito da publicação do livro "Sinto Muito", Nuno Lobo Antunes recebeu-nos no seu gabinete do CADIn
(Centro de Apoio ao Desenvolvimento Infantil)
e concedeu-nos uma entrevista em que a emoção esteve à flor da pele.


Dica da Semana - Dentro do campo da Neurologia, o que é que o fez optar pela NeuroOncologia Pediátrica?
Nuno Lobo Antunes - Sempre quis seguir Pediatria. Depois, por razões de ordem familiar e de exposição à Neurologia, achei que fazia sentido juntar a Pediatria e a Neurologia. Decidi então ser NeuroPediatra, pelo que fui para os Estados Unidos. Alguns anos depois regressei a Portugal como consultor no IPO, onde exercia Neurologia Pediátrica, e nessa altura senti necessidade de adquirir uma competência especial no campo da NeuroOncologia, que se começava a desenhar como uma especialidade, que exigia um conhecimento muito aprofundado que eu não tinha. Por outro lado, tinha vontade de fazer uma tese de doutoramento e sobretudo, tinha noção de que em Portugal estava a estagnar em termos profissionais, ou seja, era altura de sair novamente do país.

DS - Quando decidiu enveredar por essa área pensou, em algum momento, na dor com que teria de lidar?
NLA - Não, até porque a Neurologia Pediátrica em si mesma já é uma especialidade difícil do ponto de vista da digestão emocional. Por outro lado, para mim, um dos aspectos interessantes do cancro é o facto de ser um inimigo visível, ou seja, através dos exames de imagem é algo fácil de identificar, tem massa, tem volume, tem forma, quase que tem um temperamento.

DS - O momento de confrontar os pais com a doença de um filho é um dos momentos mais complicados da sua profissão, mas de acordo com o que descreve no livro "Sinto Muito" não é o único.
NLA - Conjugar a verdade que os doentes e os pais merecem com a dor que essa verdade inflige é sempre um momento complicado, em que o equilíbrio nem sempre é fácil. Do meu ponto de vista, os doentes e os pais merecem a verdade acima de tudo, embora nem sempre a aceitem e nem sempre apreciem que ela lhes seja dita. No entanto, estes são apenas momentos curtos, difícil mesmo é o acompanhamento das famílias durante o período em que têm de conviver com a doença.

DS - A determinada altura do livro diz que "não há boas maneiras de se darem más notídas, embora existem umas melhores do que outras". Isso é algo que se aprende com a experiência?
NLA - Hoje em dia ainda não sei se o sei fazer bem. E sempre mais fácil ao médico ocultar um factor negativo, o que inicialmente até pode deixar a família mais grata, mas temo que a prazo não seja essa a melhor resposta. Por isso, mantenho firme a minha convicção de que alguém que recorre a um médico precisa de saber dele aquilo que é provável que vá acontecer, qual será o rumo dos acontecimentos e o que é que está implícito no diagnóstico.

DS - Porque é que a história da Jennifer, a quem dedica uma crónica neste livro, o marcou tanto?

NLA - A verdade é que há doentes com quem temos mais empatia, o que não quer dizer que essas diferenças afectivas se repercutam na qualidade dos cuidados prestados. No caso da Jennifer, havia de facto uma ligação afectiva muito grande entre nós. Com apenas 20 anos de idade aquela rapariga teve de enfrentar um dilema monstruoso: ou fazia um transplante e tinha 20% de probabilidade de morrer, ou não fazia nada e continuava a viver normalmente durante pelo menos mais dois anos. Ela optou pela 1ª hipótese e acabou por morrer, desfigurada, no meio de um sofrimento intenso... (pausa). Além disso, o facto de terem sido os pais dela a darem-me força num momento em que tinham perdido muito mais do que eu, também me marcou bastante. Durante muito tempo tive a fotografia dela no monitor do meu computador, para me lembrar todos os dias porque é que faço o que faço.

DS - É por isso que essa é a única crónica do livro que termina com a palavra "desculpa"?
NLA - Confesso que não tinha reparado nisso... (pausa). Essa foi a última história que escrevi para o livro, porque queria contá-la de uma forma que não a desmerecesse e não sabia se era capaz o fazer... (pausa). Acima de tudo esse foi um final sentido, porque este é um livro genuíno, não tem nada de artificial. Aquilo que lá está é um homem descarnado das suas experiências.

DS - É verdade que quando o terminou se sentiu mais leve e mais livre?
NLA - No tempo em que eu me confessava, quando saía de lá sentia-me renascido. Foi precisamente assim que me senti depois de ter escrito este livro, renascido e liberto. Além disso, não é fácil escrever-se um livro quando se é irmão do António Lobo Antunes. Por isso escrever este livro, foi também um acto de coragem. Aliás, quando estava a escrever disse ao António que aprecio muito mais os escritores agora.

DS - Se não tivesse ido para os Estados Unidos acha que seria o médico que é hoje?
NLA - Seguramente que não. Ter passado pelos melhores hospitais de Nova Iorque foi uma escola extraordinária e uma experiência formadora insubstituível. Não saberia o que sei e não teria a postura que tenho se não tivesse tido essa experiência.

DS - Ser "o filho do professor" e "o irmão do professor" foi um aspecto que pesou na sua decisão de ir para os Estados Unidos?
NLA - Esse meu ascendente familiar também teve vantagens evidentes que não podem ser escamoteadas. Para começar, vantagens do ponto de vista académico e cultural. Vivo com a Medicina desde que me conheço, pelo que tinha, à partida, vantagens óbvias sobre os meus colegas ao nível da competição académica. Por outro lado, é óptimo viver-se e crescer-se num meio de pessoas tão especiais e excepcionais, mas sendo eu o 5º irmão, senti necessidade de perceber quem eu era, independentemente do meu nome de família e de todas essas vantagens. A ida para os Estados Unidos serviu, de alguma forma, para clarificar as coisas e dar-me alguma tranquilidade em relação a quem sou e ao que sou capaz de fazer.

Entrevista da Dica da Semana de 18 de Dezembro de 2008, por M. J. F.
Nascido em Lisboa a 10 de Maio de 1954, Nuno Lobo Antunes cresceu no seio de uma família que ele próprio considera "notável" e onde a Medicina esteve sempre presente, ou não fosse ele filho do neurologista João Alfredo Lobo Antunes. "Desde que me lembro de ter pensado a sério numa profissão que quis ser médico. Gostava dos cheiros, das batas e da forma respeitosa como o meu pai era tratado", relembra. No entanto, seguir medicina não era um destino inevitável no seio da família Lobo Antunes. Para além de Nuno, o penúltimo de 6 irmãos, só João, o segundo filho do professor, sequiu as pisadas do pai. O filho mais velho, António, encontrou na Literatura a sua vocação profissional e há ainda dois juristas e um arquitecto. Quanto a Nuno, licenciou-se em 1977 na Faculdade de Medicina de Lisboa e depois de um internato nos Hospitais Civis de Lisboa e de uma "peregrinação", como ele próprio lhe chama, pela província, emigrou para os Estados Unidos, em busca da sua identidade pessoal e profissional, uma experiência ímpar, que fez dele o homem e o médico que é hoje em dia. Actualmente é Director Médico e Coordenador das áreas de NeuroDesenvolvimento e Neurologia do CADIn (Centro de Apoio ao Desenvolvimento Infantil), para além de Consultor de NeuroPediatria do Serviço de Pediatria do Hospital Fernando da Fonseca e Consultor de Neurologia Pediátrica do Instituto Português de Oncoloqia (IPO) de Lisboa. Aos 54 anos de idade sentiu necessidade de revelar o homem por detrás do médico e para isso escreveu o livro "Sinto Muito", onde se revela sem receios. Como se pode ler na sinopse da obra "há no médico o desejo de ser santo, de ser maior. Mas na sua memória transporta como um fardo, olhares, sons, cheiros e tudo o que o lembra de ser menor e imperfeito. Este é um livro de confissões".

BEN CARSON - O NEURO-CIRURGIÃO PEDIÁTRICO DE FAMA MUNDIAL


     A mãe e o pai que estavam de pé diante de mim não podiam acreditar que não havia esperança para o seu filho de quatro anos de idade.
     Tinham-no trazido ao Hospital Johns Hopkins desde o seu lar na Geórgia, onde se lhe havia diagnosticado um tumor maligno do bolbo raquidiano, através do qual circulam todos os impulsos cerebrais. O louro pequenito estava paralisado e em coma, os seus olhos azuis moviam-se de um lado para o outro, mas sem nada verem.
     Sofri com os pais. Também eu tinha três filhos pequenos. Havia estudado, porém, as radiografias que revelavam o tumor, negro e horrível, e tinha-as discutido com os radiologistas e outros médicos.
     "Tenho muita pena, Sr. e Sra. Pylant - disse-lhes - mas não lhes podemos oferecer nenhuma esperança."
     O queixo da mãe tremeu. "Isso foi o que nos disseram na Geórgia, doutor, mas o Senhor indicou-nos que devíamos trazer o Cristóvão a Baltimore porque havia aqui um médico que podia ajudá-lo. Acreditamos que o senhor é esse médico."
     - Mas, eu...
     - Não é a vontade de Deus que o nosso filho morra, doutor - interrompeu o pai. Poderia operá-lo, por favor?
     Em presença desta fé, que podia eu dizer?
     - Farei o melhor que possa - foi a minha resposta.

     Na manhã seguinte, depois da minha leitura diária da Bíblia, orei a Deus e pedi-Lhe que me guiasse as mãos e a mente na complicada operação que devia efectuar. Ao fazê-lo pensei em todas as coisas maravilhosas que Ele havia operado na minha vida desde a minha infância nos bairros pobres de Detroit.
     Recordei os dias em que a minha mãe nos criava sozinha, a mim e ao meu irmão mais velho, Curtis. Ela tinha três empregos ao mesmo tempo: limpava casas e tratava de crianças.
     Orava cada dia por Curtis e por mim, e aos Sábados levava-nos à Igreja Adventista do Sétimo Dia. Ali eu apreciava as narrativas acerca dos profetas, e de Jesus e Seus milagres de cura. E quando ouvi acerca da maneira como os médicos missionários ajudavam as pessoas em terras longínquas, decidi que também eu havia de ser médico.
     Certa noite, revelei à minha mãe as minhas aspirações, enquanto voltávamos para casa passando por ruas cheias de lixo. Ao observar os rostos magros de vários vagabundos e ao ouvir a sirene do carro da polícia que passava a grande velocidade, minha mãe deteve-se e pôs a mão no meu ombro.
     
"Benny, se pedires alguma coisa ao Senhor, crendo que Ele o fará, então o fará."

Mas minha mãe também sabia acerca das minhas notas baixas na escola primária, e fez-me ver que a concretização dos meus sonhos exigiria bastante esforço da minha parte.
     "Nunca poderás ser um médico se tudo o que fazes é ver a televisão! - Disse ela uma manhã, enquanto desligava o programa Os três maníacos -. É melhor que o teu irmão e tu comecem a ler." Insistiu em que lêssemos pelo menos dois livros por semana. "Não toques nesse botão, Benny - advertia se me surpreendia a procurar ligar o televisor -. Lê o teu livro."
     Assim o fiz, e quanto mais lia, mais interessantes me pareciam os livros. Pouco tempo depois tinha-me convertido num ávido leitor.
     Em dois anos as minhas notas subiram até que obtive as melhores classificações entre todos os meus companheiros.
     Graduei-me com honras na Escola Superior e ganhei uma bolsa para estudar na Universidade de Yale, e em seguida na Escola Médica da Universidade de Michigan, e finalmente consegui ser nomeado como médico no Hospital Johns Hopkins.


     Teria sido muito fácil que nada disto tivesse sucedido. Um dos problemas que tive quando pequeno era o meu temperamento violento. Era tão explosivo que por vezes atacava as outras pessoas com pedras, tijolos, ou o que encontrasse. Por muito que lutasse por controlar-me, o meu mau génio disparava como uma mola de ratoeira.
     Um dia, quando tinha 14 anos, um rapaz do bairro estava a provocar-me. De repente enchi-me de ira e quase sem dar por isso peguei numa enorme navalha e avancei para lha cravar no ventre.
     Crack!, a lâmina de aço deteve-se ao embater na pesada mola do seu cinto.
     Enquanto o jovem fugia espavorido, fiquei assombrado em presença do que acabava de fazer. Podia tê-lo morto. Nauseado, dirigi-me aos tropeções para minha casa, onde me fechei na casa de banho e me sentei na banheira em frente da parede.
     Como podia eu mudar? Sabia que a minha ira não tinha controle. Algo tinha que ser feito!

     Por esse tempo estávamos a estudar o livro de Provérbios na igreja. Esse era o meu livro favorito da Bíblia e ainda continua a sê-lo. Sentado na banheira, algumas das palavras de Salomão começaram a tomar forma na minha mente: "Como a cidade derribada, que não tem muros, assim é o homem que não pode conter o seu espírito." (Provérbios 25:28). Estas palavras eram para mim. Agora sabia com toda a certeza que se não controlasse o meu próprio espírito iria parar à cadeia ou ao cemitério.
     
"Benny, se pedires alguma coisa ao Senhor, crendo que Ele o fará, então o fará", tinha-me dito minha mãe repetidas vezes.

     Nesse instante ajoelhei-me no soalho da casa de banho. "Senhor - orei, tira-me este mau génio! Eu sei, eu creio que o farás."
     E o fez! E não gradualmente. O Senhor me tirou o mau génio de uma vez! Quando sentia que me estava enfurecendo, de alguma forma começava a acalmar-me, como se alguém 'apagasse o fogo'. Fiquei maravilhado com o que Deus por mim fizera, e ainda o estou.

     Quando chegou o momento de operar Cristóvão Pylant, olhei para a minha mão, a mesma que tinha empunhado a navalha naquele inesquecível dia, e dei graças a Deus porque agora guiaria um bisturi para salvar a vida de uma criatura.
     Essa manhã na sala de operações, ao abrir o pequeno crânio de Cristóvão, pude ver o que tinha esperado: um negro tumor maligno cobria tudo. Nem sequer podia ver a medula espinal, que indubitavelmente havia sido consumida pelo cancro. Sem a medula espinal, na realidade não há vida.
     Extraímos o que pudemos do tumor, fechámos a incisão e levámos o menino para a sala de cuidados intensivos.
     Quando entrei na sala de espera, os pais puseram-se de pé com rostos ansiosos. Enchia-me de angústia o ter de lhes comunicar que não havia esperança, mas tinha que fazê-lo.
     - Tenho pena de lhes dizer que não pudémos ajudar o vosso filho - confessei -. Sei que oraram e eu também orei. Mas por vezes, o Senhor opera de maneiras para nós incompreensíveis.
     Os pais não mudaram. Mantinham ainda a sua expressão de fé e convicção.
     - Doutor - disse o pai, enquanto a mãe assentia com a cabeça -, o Senhor vai sarar o nosso filho. Confiamos na Sua promessa.
     Respirei profundamente, e só acrescentei: "A vossa fé é admirável."
     Sentia uma pena imensa dos Pylant. Eles criam firmemente que Cristóvão ficaria curado, mas o que eu tinha visto no cérebro do pequeno era irrefutável.

     Apesar disso, três dias depois da operação algo de estranho ocorreu. Embora Cristóvão ainda estivesse em coma, os seus olhos começaram a focar e os seus movimentos físicos mostravam melhoras.
     - Façamos um novo exame - pedi, embargado de uma estranha sensação.
     Quando estudei a folha com os resultados, fiquei surpreendido ao notar a presença do que pareciam ser restos da medula. Tínhamos que operar novamente.
     No dia seguinte, Cristóvão estava na sala de operações e eu lutava para extrair o tecido descolorido do tumor com bisturi e pinças. Mas onde se nos tinha feito impossível identificar os planos de operação anteriormente, agora pude extirpar todo o tumor, camada após camada.

     Enchi-me de entusiasmo. Uma enfermeira limpava-me o suor da testa enquanto trabalhava. Finalmente, depois de limpar todos os resquícios, pude ver a espinal medula de cor cinzenta, intacta, mas pisada e disforme.
     Passado um mês, o nosso paciente estava em condições de abandonar o hospital. Diante de Cristóvão, que nos sorria, os seus pais e eu demos graças a Deus. Ao sair do hospital, os seus rostos brilhavam com a glória celeste....

E de novo me pareceu ouvir as palavras da minha mãe: "Benny, se pedires alguma coisa ao Senhor, crendo que Ele o fará, então o fará..."

Texto apresentado na Revista Sinais dos Tempos, nº 39, 1991.
Nota da redacção: Quatro anos mais tarde, Cristóvão Pylant é uma criança activa e saudável. O Dr. Carson é o Director de NeuroCirurgia Pediátrica no Hospital Universitário Johns Hopkins. Em Setembro de 1987 foi o cirurgião principal na operação de 22 horas de duração que separou os siameses alemães que estavam unidos pela cabeça.