sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

NATAL  PARA  COMEMORAR




PROJECTADO  PELO  CÉU
«O anjo, porém, lhe disse: Não temais; eis aqui vos trago boa-nova de grande alegria, que será para todo a povo.» Lucas 2:10.


Benjamin Franklin descobriu que o gesso, quando lançado ao solo, realmente ajudava as plantas a crescer. Quando ele falou sobre isto aos outros agricultores, eles riram-se. Por isso Franklin deixou o assunto de lado.
Na Primavera seguinte, entretanto, plantou trigo num pedaço de terra perto de um caminho bastante utilizado por todos. Primeiro traçou algumas letras no solo com o dedo, e lançou ali o pó de gesso. Depois, passou a semear o trigo por todo o terreno. Dentro de poucas semanas, os caules verdes começaram a brotar, e os que ali passavam começaram a observar um padrão cada vez mais definido a tomar forma naquele pedaço de terra. Finalmente, aqueles caules, cada vez mais altos e mais verdes, começaram a apresentar uma mensagem no campo, a qual finalmente convenceu os teimosos vizinhos de Franklin da utilidade de algo tão simples como o humilde gesso.
Quando Deus quis convencer os seus teimosos filhos do Seu extraordinário amor, projectou essa mensagem pelo céu. Os anjos visitaram humildes pastores em Belém com uma mensagem muito clara. Através dos séculos, os arautos de Deus, os profetas, foram ridicularizados, troçados, caluniados e perseguidos. Quando o Seu povo não deu ouvidos aos enviados de Deus, Ele fez algo radical. Enviou o Seu próprio Filho.
Existem coisas que não podem ser explicadas e que, por isso, precisam de ser demonstradas. O amor de Deus é assim. Ele não pode ser explicado, mas pode ser revelado. O amor de Deus é revelado através do nascimento, vida e morte de Jesus. Numa cruz manchada de sangue, Deus projectou amor por toda a face de um planeta perdido. Revelou até onde iria só para nos salvar. Não há sacrifício que Ele não fizesse. Não há preço que Ele não pagasse. Não há nada que Ele não desse para nos redimir.

O Céu deu-se inteiramente. O Céu deu o seu melhor. O Céu deu tudo o que tinha. E é por isso que os anjos cantaram: "Glória a Deus nas alturas", e, juntamente com eles, nós também cantaremos por toda a eternidade.




UM  PRESENTE  PARA  QUEM  DEU
«E abrindo os seus tesouros, entregaram-Lhe as suas ofertas: ouro, incenso e mirra.» Mateus 2:11.


Quando Jesus nasceu, as pessoas da Sua época tiveram reacções diferentes quanto ao Seu nascimento. Os escribas e fariseus ficaram indiferentes. Eles mal percebiam o que estava a acontecer. Infelizmente, existem pessoas religiosas que estão indiferentes a Cristo neste Natal. Cristo ainda fica perdido na agitação da época. Ele fica encoberto pela árvore de Natal e pelos presentes caprichosamente embrulhados. Ele fica escondido em toda esta correria.
Houve quem se Lhe opusesse naquela época, como também há quem se Lhe oponha hoje. Herodes e os soldados romanos sentiam-se ameaçados pela perspectiva do Rei recém-nascido. Estavam ameaçados pelo desafio em potencial que o Seu governo representava. Herodes mandou matar todas as crianças hebreias com menos de dois anos. Ele não queria que o seu trono fosse ameaçado. Há pessoas hoje, nesta época de Natal, que não Lhe darão o trono do coração. Estas fazem tudo para manter o controlo.
Ainda há uma terceira reacção para com Jesus. Três reis do Oriente trouxeram-Lhe presentes. Aqueles sábios prostraram-se aos Seus pés para O adorarem. Mulheres e homens sábios ainda O adoram, hoje.
O evangelho de Mateus diz: «E, abrindo os seus tesouros, entregaram-Lhe as suas ofertas: ouro, incenso e mirra.» Mateus 2:11. O ouro é um presente para um rei. Representa todos os nossos bens materiais. No Natal, reconhecemos: "Senhor, todas as minhas posses são Tuas. Tu és o Rei dos reis e o meu Rei."
O incenso é um presente para um sacerdote. Era usado pelos sacerdotes no antigo santuário. No Natal, ajoelhamo-nos e declaramos: "Jesus, Tu és o meu Sacerdote. Tu intercedes por mim. Tu apresentas a Tua justiça perfeita diante de todo o Céu, em lugar do meu enorme fracasso."
A mirra é um presente para quem está para morrer. É um unguento antigamente utilizado nos serviços fúnebres. No Natal, reconhecemos: "Jesus, Tu és o meu Salvador. Tu és o inocente Bebé que nasceu e o meu justo Redentor que morreu por mim."

Alegre-se, hoje! É hora de comemorar! Aceite-O como o seu Salvador. Busque-O como o seu Sacerdote. Reconheça-O como o seu Rei.




UM  NASCIMENTO  PARA  SER  COMEMORADO
«Salvé Agraciada: O Senhor é contigo.» Lucas 1:28.


Não há nada mais excitante na vida de um casal do que o nascimento do seu primeiro filho. A minha mulher e eu tinhamos 25 anos quando a nossa filha Debbie nasceu. Eu tinha tanta certeza de que seria uma menina que lhe comprei um vestidinho vermelho muito brilhante. Pode até imaginar a nossa filhinha, com o tom avermelhado de um bebé recem-nascido, com aquele lindo vestido vermelho. Ela iluminou todo o hospital.
Dizer que Teenie e eu estávamos felicíssimos com o nascimento da nossa primogénita é dizer muito pouco, como também é muito pouco dizer que estávamos preparados para o evento.
Nós lemos todos os livros sobre educação infantil que pudemos obter. Juntos, assistimos às aulas sobre parto natural e preparámos o quarto para o bebé. Quando Debbie nasceu, estávamos prontos.
Deus também ficou muito contente com o nascimento do Seu Filho. Os coros angelicais anunciaram a Sua chegada. Os pastores e os magos proclamaram o Seu nascimento. As vozes de profecias feitas séculos atrás ecoaram o nascimento do Messias.
Aquele não foi um nascimento comum. Jesus foi concebido de maneira sobrenatural pelo Espírito Santo no ventre de Maria. Aquele não era um bebé comum. Jesus era o divino Filho de Deus em carne humana, o Cristo divino-humano. O anjo anunciou a missão de Jesus para José: «Ela dará à luz um filho e Lhe porás o nome de Jesus, porque Ele salvará o Seu povo dos seus pecados.» Mateus 1:21. A Sua missão foi claramente definida pelo Céu - salvar o Seu povo dos pecados deles.
O bebé nascido na manjedoura de Belém é o seu e o meu Salvador. O período do Natal é próprio para comemorar e rejubilar. É um bom momento para louvar. Não fomos deixados sós nas profundezas do nosso pecado. Na escuridão da nossa rebelião existe uma luz. Estamos presos nas garras do pecado, mas existe esperança.

Podemos alegrar-nos. Deus enviou-nos uma inegável mensagem do Seu amor, no Bebé nascido numa manjedoura de Belém. Ele encherá a sua vida de felicidade e alegria neste Natal.




A  PAZ  DO  NATAL
«Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na Terra entre os homens, a quem Ele quer bem.» Lucas 2:14.


O senador John McCain passou cinco anos e meio como prisioneiro de guerra em Hanói, durante a guerra do Vietname. Ele e muitos outros pilotos enfrentaram sofrimentos terríveis. Mas chegou um dia, do qual McCain se lembra claramente, quando eles puderam erguer-se acima do abuso e do isolamento.
Era a véspera de Natal de 1971. Poucos dias antes, McCain pôde ter uma Bíblia nas suas mãos apenas durante alguns momentos. Rapidamente, copiou o maior número que pôde de versículos da história do Natal, antes que um guarda se aproximasse e lhe tirasse a Bíblia.
Naquela noite especial, os prisioneiros decidiram fazer o seu próprio culto de Natal. Eles começaram com a Oração do Senhor e depois cantaram músicas de Natal. Entre cada hino, McCain lia uma passagem.
Os homens estavam nervosos e, no começo, pareciam tensos. Lembraram-se de quando, um ano atrás, os guardas invadiram o local onde eles, secretamente, faziam o seu culto, e começaram a bater nos três homens que o dirigiam. Estes foram arrastados para a solitária. Os restantes foram trancados em celas durante 11 meses.
Mesmo assim, naquela noite, os prisioneiros queriam cantar. E eles começaram a cantar: "Chegai-vos, ó crentes, vinde jubilosos ... " Cantavam bem baixinho, com os olhos fixos nas janelas com grades da sua cela. À medida que o culto progredia, os prisioneiros foram ficando mais corajosos. As suas vozes elevaram-se um pouco mais até que encheram a cela com: "Já soou por todo o céu: 'Glória ao Rei que vos nasceu.'"
Quando se puseram a cantar: "Tudo é paz! Tudo amor!", as lágrimas começaram a rolar pelos seus rostos. Mais tarde, John McCain escreveu: "De repente, estávamos longe dali, numa cidade chamada Belém, há 2000 anos atrás. Nem a guerra, nem a tortura, nem a prisão conseguiram desvanecer a esperança nascida naquela noite de paz, há muito tempo atrás."

Se Lhe abrirmos o nosso coração, Jesus também nos dará a Sua paz. Assim como Ele transformou uma prisão norte-vietnamita num lugar cheio de amor, também deseja encher o seu lar de amor ainda hoje.


Mensagens de Natal de  Mark Finley  in  SOBRE A ROCHA

Director/Orador do programa de Televisão It is Written (de 1991-2004)
e que continua a ser emitido regularmente nos EUA.
(Mais informações na Wikipedia).

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

BLAISE PASCAL



Já viu alguém apaixonado citando o pensamento "o coração tem razões que a própria razão desconhece"? Mesmo que esteja um pouco fora do seu sentido filosófico original, este é um ditado conhecido em todo o mundo e o seu autor foi um famoso matemático chamado Blaise Pascal. Quem faz Filosofia, Ciências Exactas ou Análise de Sistemas tem obrigatoriamente de estudar o pensamento desse grande cristão que viveu no século XVII.

Pascal nasceu em Clermont-Ferrand - França, no dia 19 de Junho de 1623. Os seus pais eram Etienne Pascal e Antoinette Bégon, que morreu quando ele tinha apenas 3 anos. 0 Dr. Etienne, agora viúvo, resolveu, depois de alguns anos, deixar o seu emprego como advogado em Clermont e mudar-se para Paris a fim de dar melhores condições aos seus filhos. Nessa ocasião, Blaise Pascal tinha 8 anos de idade e, nas horas vagas, era o seu próprio pai quem lhe ensinava gramática, latim, espanhol e matemática seguindo um método pedagógico que ele mesmo elaborara.

O entusiasmo do seu pai em ser professor do próprio filho aconteceu por notar o brilhantismo excepcional do garoto. Só para se ter uma ideia, com apenas 11 anos, Blaise reconstituiu as provas da geometria euclidiana até à Proposição 32, aos 12 anos compôs sozinho um tratado sobre a comunicação dos sons e, aos 16, um outro sobre as divisões cónicas. Se você ainda não entendeu o que significam essas descobertas, não se preocupe. É matéria para especialista. Basta saber que Blaise Pascal era um génio incontestável.

Mas não pense que a sua inteligência lhe subia à cabeça. Pascal sempre foi apontado como uma pessoa muito humilde e simpática com os demais com quem convivia. Essa era uma virtude que o acompanhava desde a infância. Mesmo as coisas materiais eram para ele um detalhe que deveria ser submetido à vontade de Deus.

Um adolescente "fora de série"

As conclusões matemáticas que Pascal idealizou entre os 11 e 17 anos foram tão originais que ele provocou o interesse de vários matemáticos que queriam conhecer as suas teorias inovadoras. Em 1637, foi convidado a ter encontros semanais de discussão com matemáticos famosos da época como Roberval, Mersenne e Mydorge. Foi a própria Academia Francesa quem promoveu esses diálogos e incentivou as pesquisas daquele garotinho de apenas 14 anos.

Não pense, porém, que tudo eram flores. Sempre houve na História aqueles inseguros que se sentem ameaçados com o sucesso de outra pessoa. Foi o que aconteceu. René Descartes, que era o maior matemático vivo naquela época, recusou-se a acreditar que aquela profundidade de raciocínio pudesse partir de um garoto com espinhas no rosto. Chegou a supor que Pascal tinha plagiado as suas ideias de um outro matemático chamado Gérard Desargues. O facto, porém, é que havia elementos novos no trabalho de Pascal, que nem mesmo os grandes matemáticos tinham percebido.

Assim, a Academia Francesa resolveu publicar as suas obras que se tornaram rapidamente conhecidas em toda a Europa. Os seus avanços na geometria foram considerados os mais profundos desde a época dos gregos. Um deles era o cálculo das probabilidades combinadas que até hoje é usado por matemáticos para saber quais as chances (em 10, 100, 1000, etc.) de que tal coisa prevista venha de facto a acontecer. Seguradoras, Companhias de Planos de Saúde e indústrias em geral pagam verdadeiras fortunas para que matemáticos calculem quais as chances da empresa ter de indemnizar um assegurado ou conseguir lucro na venda de determinado produto. Se os números não forem bons, eles não se arriscam no negócio. E quem elaborou tudo isso? Um jovem chamado Blaise Pascal.

E não pára por aí. Aos 18 anos, ele construiu a primeira máquina aritmética da História, um instrumento no qual trabalhou durante 8 anos até aperfeiçoar o sistema. Pena que não conseguiu patentear o produto, de modo que, a máquina de calcular que Leibnitz projectaria no futuro acabou sendo considerada a ancestral da calculadora, embora Pascal já tivesse inventado um modelo.

Por esse tempo, numa correspondência particular com Fermat, Pascal admite ter sentido um especial interesse pelo estudo da geometria e da física analítica. Como de costume, ele também revolucionou o conhecimento nesse novo campo de pesquisas. Primeiro, repetiu as experiências de um certo Dr. Torricelli e provou, contra as ideias de Père Noel, que o ar possui peso. Depois, desenvolveu o barómetro, que é um instrumento para medir a pressão atmosférica e ainda conseguiu, pela primeira vez na história, produzir vácuo (total ausência de oxigénio) a partir da inversão de um frasco de mercúrio.

Um jovem que se volta para Deus

Foi em meio a essas últimas pesquisas que Pascal se sentiu totalmente atraído pelo chamado religioso. Numa noite de 1664 ele sentiu muito perto a presença de Deus, numa experiência espiritual que durou cerca de duas horas. Segundo ele escreveu nos seus Pensamentos, naquela noite, o Senhor lhe mostrou em que consistia "a grandeza e a miséria do género humano". E Pascal escolheu a grandeza, escolheu ser um servo de Deus.

A certeza que brotara no seu coração era forte demais para nutrir qualquer dúvida quanto à realidade do Céu. Porém, Pascal pensara nas pessoas que por algum motivo não tinham a mesma convicção. Ele conhecia vários intelectuais que desde há uns tempos tinham perdido a fé. Logo, aquele que tanto contribuiu para avanços matemáticos, físicos e químicos, resolveu agora usar a sua genialidade mental para testemunhar acerca do Criador de todo o universo.

Embora alguns o julgassem fanático, não era essa a intenção do seu espírito. Aliás, não havia nada que o aborrecia mais do que a fé destituída de razão. Quando criança, ele ainda se lembrava, uma doença contagiosa tinha-o deixado de cama e uma pobre mulher, que nada tinha a ver com o problema, foi responsabilizada sob a acusação de ser uma bruxa que tinha enfeitiçado o menino. Ele sabia que ela não era culpada, mas por pouco não viu a mulher ser queimada por religiosos insanos que viam demonismo em tudo, até nos acontecimentos puramente naturais. Pascal jamais se tornaria um fanático.

Argumentando sobre a existência de Deus

Pascal entendia que as argumentações racionais tinham um grande valor no discurso acerca de Deus. Mas, apesar disso, elas parecem convencer somente por algum tempo e logo perdem a força. A razão dos homens fracassa porque é uma virtude finita tentando descrever um ser infinito que está acima da compreensão humana.

Portanto, as provas racionais não devem ser abandonadas mas mescladas de fé e graça, que são elementos concedidos directamente por Deus. Elas servem, num primeiro momento, para despertar a fé no coração de alguns que insistem na descrença. Foi dessa atitude que surgiu o famoso argumento da aposta. Você já ouviu falar nele?

Tudo aconteceu quando Pascal e os seus amigos estavam um dia discutindo pensamentos numa praça da cidade de Paris. Aqueles homens eram pensadores livres e não aceitavam a existência de Deus. Pascal estava consciente disso e sabia também que eles apreciavam bastante um jogo de apostas. Então ele afirmou: "Aposto com vocês que, matematicamente falando, crer em Deus é mais lucrativo do que descrer d'Ele." "Como?" perguntou um dos seus colegas.

"É simples", respondeu Pascal.

"Você pode, enquanto ateu, ter tudo o que um crente possui: família, saúde, cultura, princípios, etc. Enquanto ateu, você pode ainda argumentar que, inquestionavelmente, ninguém lhe pode provar, que Deus existe. Logo, se você e um crente morrem, é possivel dizer que a vossa vida terminou num empate. Tudo o que um teve, o outro também possuía."

"Assim, se você estiver certo no seu ateísmo, o empate continua, pois ambos terão o mesmo fim.
Porém, se o crente estiver certo, então haverá um desempate, pois não será possível que ambos desfrutem da mesma sorte diante do juízo de Deus."

"Portanto", concluía Pascal:


"Se eu aposto por Deus e Deus existe - meu ganho é infinito
Se eu aposto por Deus e Deus não existe - não perdi nada
Se eu aposto contra Deus e Deus não existe - não perdi nem ganhei
Mas, se eu aposto contra Deus e Deus existe - então minha perda será infinita."


Infelizmente, Pascal foi um homem de saúde bastante debilitada. Não obstante, mesmo em meio às dores e fraquezas que a doença lhe proporcionava, ele entregou-se mais e mais ao Salvador crucificado. No leito de dor, ele escreveu um sublime memorial intitulado "O Mistério de Jesus", onde testemunha o seu amor pelo Filho de Deus. Com poucas forças ainda se envolveu em trabalhos de caridade e projectou um sofisticado sistema de transporte público para a cidade de Paris. Até linhas de veículos colectivos, evidentemente puxados a cavalo, estavam nesse projecto que foi executado em 1662. Em Agosto daquele mesmo ano, ele veio a falecer com apenas 39 anos de idade. Segundo alguns biógrafos, as suas últimas palavras foram: "Por favor, meu Deus, jamais me deixes sozinho."




Rodrigo Pereira da Silva - Arqueólogo - in Eles Criam em Deus
(Biografias de cientistas e sua fé criacionista)

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

“NÃO PERMITAS QUE TUDO TERMINE DESTA MANEIRA”



O hospital encontrava-se impressionantemente silencioso naquela fria noite de Janeiro, silencioso e calmo como o ar, antes de uma tempestade.
Eu estava na sala das enfermeiras do 7º andar e levantei os olhos para o relógio. Eram 9 horas da noite. Coloquei o estetoscópio em volta do pescoço e dirigi-me para o quarto 712, o último quarto do corredor. O quarto 712 tinha um novo doente, o Sr. Williams. Um homem sozinho. Um homem estranhamente silencioso acerca da sua família.

Quando entrei no quarto, o Sr. Williams olhou ansiosamente, mas logo baixou os olhos quando viu que só ali estava eu, a sua enfermeira. Pressionei o estetoscópio sobre o seu peito e ouvi. Forte, vagaroso, ainda batendo. Precisamente o que eu desejava ouvir. Nem parecia que ele tinha sofrido um ligeiro ataque cardíaco poucas horas antes.
Olhou para mim, do seu imaculado leito branco. “Senhora enfermeira, poderia...” Hesitou, com os olhos cheios de lágrimas. Já uma vez antes ele tinha começado a fazer-me uma pergunta, mas tinha mudado de parecer. Toquei na mão, aguardando. Ele limpou uma lágrima. “Poderia chamar a minha filha? Diga-lhe que tive um ataque cardíaco. Um ataque ligeiro. Sabe?... eu vivo sozinho, e ela é a única família que tenho.”

Subitamente, a respiração acelerou-se-lhe. Pus o oxigénio nasal a 8 litros por minuto. “Sem dúvida, vou chamá-la”, disse eu, estudando o seu rosto. Soergueu-se levemente com os olhos fixos em mim, com uma expressão de urgência no rosto.
“Poderia chamá-la imediatamente – o mais depressa possível?” Ele estava com uma respiração rápida – demasiado rápida. “Vou chamá-la antes de mais nada”, disse eu, afagando-lhe o ombro.
Apaguei a luz. Ele fechou os olhos, belos olhos azuis no seu rosto de 50 anos. O quarto 712 ficou praticamente às escuras, iluminado apenas por uma ténue lâmpada nocturna. O oxigénio borbulhava nos tubos verdes por cima da sua cama. Com relutância em sair, dirigi-me através do sombrio silêncio para a janela. As vidraças estavam frias. Em baixo um denso nevoeiro pairava sobre o parque de estacionamento do hospital.

“Enfermeira”, chamou ele, “podia trazer-me um lápis e um papel?” Tirei um pedaço de papel amarelo e uma esferográfica do meu bolso e coloquei-os sobre a mesinha de cabeceira. Voltei para a sala das enfermeiras e sentei-me junto do telefone. A filha do Sr. Williams figurava na sua ficha como sendo a pessoa mais próxima da família. Consegui saber o seu número telefónico e liguei. A sua ténue voz respondeu.
“Janie, daqui é Sue Kidd, enfermeira de serviço no hospital. Quero dar-lhe notícias do seu pai. Ele deu entrada esta tarde com um ligeiro ataque cardíaco e...”
“Não!”, gritou ela para o telefone, alarmada. “Ele não está a morrer, pois não?” “Por agora a sua situação é estável”, disse eu, procurando mostrar-me convincente. Silêncio. Mordi o meu lábio. “Não o deve deixar morrer!” disse ela. A sua voz era tão intimativa que a minha mão tremeu ao telefone. “Estamos a tratar dele com todo o cuidado possível.” “Mas talvez tenha dificuldade em compreender...”, desculpou-se ela.

“O meu pai e eu não nos falamos há quase um ano. Tivémos uma terrível discussão quando fiz 21 anos, a propósito do meu namorado. Então saí de casa... E nunca mais voltei. Durante todos estes meses tenho tido o desejo de voltar e pedir-lhe perdão. A última coisa que lhe disse foi: 'Odeio-o'."

A sua voz fraquejou e ouvi-a irromper em agonizantes soluços. Eu estava sentada, ao ouvi-la, com lágrimas queimando-me os olhos. Um pai e uma filha, tão perdidos um para o outro. Então pensei no meu próprio pai, a muitos quilómetros de distância. Fazia já tanto tempo que eu lhe tinha dito: “Amo-o!”

Enquanto Janie lutava por controlar as suas lágrimas, balbuciei uma oração: “Por favor, ó Deus, permite que esta filha encontre o perdão.” “Vou imediatamente. Estarei aí dentro de 30 minutos”, disse ela. Clique. O telefone acabava de ser desligado.

Procurei ocupar-me com uma quantidade de fichas que estavam sobre a mesa. Não era capaz de me concentrar. Quarto 712. Eu sabia que tinha de voltar ao 712. Para lá me dirigi à pressa. Abri a porta. O Sr Williams jazia imóvel. Peguei-lhe no pulso. Não havia a mínima pulsação. «Código 99. Quarto 712. Código 99. Urgente». O alerta soou por todo o hospital dentro de segundos. O Sr. Williams tinha tido um colapso cardíaco. Com rapidez eléctrica, curvei-me sobre a sua boca, expirando ar para os seus pulmões. Coloquei as mãos sobre o seu peito e comprimi. Um, dois, três. Procurei contar. Aos 15 voltei à sua boca e respirei tão profundamente quanto pude. Como ajudar? De novo comprimi e respirei. Comprimi e respirei. Ele não podia morrer! “Ó Deus!”, orei. “A sua filha está a chegar. Não permitas que tudo termine desta maneira”.

A porta abriu-se subitamente. Médicos e enfermeiras precipitaram-se para dentro do quarto, empurrando equipamento de urgência. Um médico empreendeu a compressão manual do coração. Um tubo foi inserido através da sua boca para ajudar a respiração. Enfermeiras mergulharam seringas de medicamentos nas suas veias. Liguei o monitor do coração. Nada. Nem sequer uma palpitação. O meu próprio coração batia forte. “Deus, não permitas que termine assim. Não em amargura e ódio. A sua filha está a chegar. Que ela possa achar paz”. “Desviem-se”, ordenou o médico. Passei-lhe o equipamento para o electrochoque ao coração. Aplicou-o sobre o peito do Sr. Williams. Tentámos repetidas vezes. Mas nada. Nenhuma resposta. O Sr. Williams estava morto. Uma enfermeira desligou o oxigénio. Um a um, médicos e enfermeiros saíram, tristes e silenciosos. Como pôde isto acontecer? Como? Mantive-me junto da sua cama, atordoada.

Um vento frio fustigava a janela, salpicando as vidraças com neve. Lá fora – por toda a parte – parecia um leito de trevas e frio. Como podia eu enfrentar a sua filha? Quando deixei o quarto, vi-a no corredor. Um médico que tinha estado dentro do 712 momentos antes estava ao seu lado, falando-lhe, afagando-lhe o cotovelo. Depois seguiu o seu caminho, deixando-a aniquilada contra a parede. O seu rosto reflectia um patético horror. Os seus olhos estavam assombrados. Ela sabia. O médico tinha-lhe dito que o seu pai tinha falecido. Estendi-lhe a mão e levei-a para a sala das enfermeiras.
Sentámo-nos em pequenas cadeiras verdes, sem dizer uma palavra. Ela fixou os olhos num calendário farmacêutico, com um semblante vítreo, quase parecendo prestes a quebrar-se. “Janie, tenho tanta, tanta pena”, disse eu. “Nada se pôde fazer”. “Sabe? Eu nunca o odiei. Amava-o". disse ela.

Deus, ajuda-a, por favor, orei em pensamento. Subitamente, dirigiu-se para mim. “Desejo vê-lo”. O meu primeiro pensamento foi: 'para que há-de sofrer mais? O vê-lo apenas agravará a situação'. Mas levantei-me e pus o braço ao redor dela. Percorremos vagarosamente o corredor até ao quarto 712. Junto da porta apertei a sua mão, desejando que desistisse de entrar. Mas ela empurrou a porta. Dirigimo-nos para a cama, ambas confusas, dando pequenos passos em uníssono. Janie inclinou-se sobre o leito, e ali sepultou o seu rosto.
Procurei não olhar para ela, neste triste, triste adeus. Desviei-me para junto da mesinha de cabeceira. A minha mão pousou sobre um pedaço de papel amarelo. Peguei nele e li: “Minha querida Janie, perdoo-te. Peço-te que também me perdoes. Sei que me amas. Também te amo. Teu pai”.

O papel estava tremendo nas minhas mãos quando o apresentei a Janie. Ela leu-o uma vez. Leu-o pela segunda vez. O seu rosto atormentado tornou-se radiante. A paz começou a brilhar nos seus olhos. Apertou o pedaço de papel contra o peito. “Obrigada, ó Deus”, murmurei, olhando para a janela. Algumas estrelas cristalinas cintilavam no meio da escuridão. Um floco de neve bateu na janela e derreteu-se, desaparecido para sempre. A vida pareceu-me tão frágil como aquele floco de neve na janela. Mas, graças, ó Deus, porque relações, por vezes frágeis como flocos de neve, podem ser de novo reatadas.

Mas não há um momento a perder. Saí furtivamente do quarto e dirigi-me à pressa para o telefone. Liguei para o meu pai – para lhe dizer: “Eu amo-o”.


«Desfaço as tuas transgressões como a névoa,
e os teus pecados como a nuvem;
torna-te para Mim,
porque Eu te remi.»
Isaías 44:22.>

Sue Kidd
Revista SAÚDE E LAR - Publicadora SerVir